PROGRAMA
DE AVALIAÇÃO SERIADA (PAS)
UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA
Princípios
Orientadores do PAS
1
APRESENTAÇÃO
O
presente documento tem por objetivo apresentar os princípios
orientadores do Programa
de Avaliação Seriada (PAS) da Universidade de
Brasília. Este programa configura-se como uma forma de
integração entre os sistemas de educação
básica e superior, que inclui a seleção dos
futuros estudantes universitários de modo gradual e sistemático.
No PAS, o acesso aos cursos da UnB não é o produto
de um único e episódico exame seletivo, mas a culminância
de um processo que se desenvolve ao longo do ensino médio.
2
HISTÓRICO E JUSTIFICATIVA
Em
janeiro de 1995, os contextos político e educacional viabilizaram
a retomada de idéias visando à implantação
de formas alternativas de seleção de candidatos
aos cursos de graduação oferecidos pela Universidade
de Brasília.
Foi
assim constituída, pela Resolução da Reitoria
n.º 032/95, de 27/3/95, uma comissão mista, integrada
pelos professores Mariza Monteiro Borges (IP/UnB), Denise de Aragão
Costa Martins (IL/UnB), Mauro Moura Severino (ENE/UnB), Vasco
Pedro Moretto (SINEPE), Júlio Gregório Filho (Secretaria
de Educação/GDF), Maria Celeste Gomes Muraro (FEDF),
Amábile Pacios (Colégio Marista de Brasília)
e João Antônio Cabral de Monlevade (CNTE-DF), para,
sob a presidência da primeira, "discutir formas alternativas
de ingresso na Universidade, objetivando a melhoria do ensino
médio, nas redes pública e privada". Impedida de
participar das atividades por seus compromissos como Diretora
do IP, a Prof.ª Mariza afastou-se do grupo, tendo sido nomeada
presidente da Comissão, pela Resolução da
Reitoria n.º 067/95, a Prof.ª Denise Martins.
A
comissão reuniu-se periodicamente durante os meses de abril
e maio. Foram cerca de trinta horas de trabalho que resultaram
no documento "Considerações sobre uma proposta alternativa
de ingresso na UnB", encaminhado ao Reitor da Universidade de
Brasília no dia 9/6/95. Tal documento constituiu a base
para o projeto. No dia 20/6/95, realizou-se, no Auditório
Dois Candangos, no Campus Universitário Darcy Ribeiro
UnB, das 14h às 18h, o seminário "Proposta
Alternativa de Ingresso na UnB". A proposta despertou o interesse
dos presentes e foi claramente aceita. Decidiu-se, na ocasião,
que as seguintes ações deveriam ser tomadas:
- elaborar
o projeto relativo ao Programa de Avaliação Seriada,
que seria apreciado pelo Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão
(CEPE/UnB);
- constituir
comitês ad hoc para elaborarem os conteúdos
programáticos em que se fundamentaria o Programa de Avaliação
Seriada;
-
criar o Fórum
Permanente de Professores.
Começou,
então, o trabalho de redação do projeto para
a apreciação pelo CEPE. Em agosto de 1995, este
Conselho, ao aprovar o projeto, tomou decisões históricas,
entre elas a de incluir as Artes no elenco de disciplinas, reforçando
a vertente humanista que a Comissão queria imprimir a essa
nova modalidade de acesso. Foi criado, assim, o Programa de Avaliação
Seriada para o ingresso na UnB, o PAS.
Na
realidade, a discussão só havia começado.
O trabalho de interação
da Universidade com os professores do ensino médio iniciou-se
com a criação dos comitês ad hoc, encarregados
de elaborarem as propostas dos conteúdos programáticos
em que se pautariam as provas. Professores do ensino médio
e da UnB participaram voluntariamente de diversas reuniões
semanais, trabalhando na proposta de selecionar conteúdos
relevantes para a formação do cidadão,
com a convicção de que o estudante deveria ser avaliado
pela aprendizagem significativa desses conteúdos. Após
a realização de grandes fóruns por disciplinas,
abertos a todos os professores, foram finalmente estabelecidos
os conteúdos que seriam enfocados nas provas do PAS. Foi
então publicado, após mais de um ano de trabalho,
o primeiro edital do PAS.
Entendendo
que o grupo que elaborou o projeto deveria continuar acompanhando
o processo, o reitor Todorov nomeou, em 10/4/96, a Comissão
de Acompanhamento do PAS com a seguinte composição:
Denise de Aragão Costa Martins (Presidente), Mauro Moura
Severino, Vasco Pedro Moretto, Júlio Gregório Filho,
Amábile Pacios, membros da Comissão anterior, e
José Delvinei Luiz dos Santos e Hélvia Leite Cruz,
representantes da FEDF. Com a nomeação para exercer
a função de Subcoordenador do PAS - Ato da Reitoria
n.º 256/96 -, no âmbito do CESPE, o professor Mauro
Luiz Rabelo passou a integrar a citada Comissão. Assim,
essa Comissão deveria acompanhar o projeto até,
pelo menos, o ingresso da primeira turma, cabendo-lhe zelar pelo
cumprimento dos objetivos do Programa, por meio da avaliação
contínua das medidas concretas de implementação
e da definição de diretrizes para a elaboração
dos exames.
A criação do Fórum Permanente de Professores
foi concretizada, já em 1996, com a oferta de 15 cursos
de aperfeiçoamento para professores, ampliando-se para
33, em 1997, e 71, em 1998. Em 1997, o CESPE criou a Subcoordenação
do Programa de Interação com o Ensino Médio,
cujas atribuições incluem a organização
e a realização de cursos voltados aos interesses
dos professores do ensino médio - para o que o Fórum
Permanente de Professores é o instrumento fundamental -,
o credenciamento de escolas no Programa de Avaliação
Seriada, a coordenação da Sala
dos Professores, atividade realizada no decorrer da aplicação
das provas do PAS e do vestibular, com vistas ao aprimoramento
dos processos de seleção aos cursos oferecidos pela
UnB. Consolida-se, assim, a concepção de trabalho
conjunto e de efetiva interação dos níveis
básico e superior de ensino.
Ainda
em 1996, a Prof.ª Hélvia afastou-se da FEDF, deixando
de participar da Comissão. O Prof. José Delvinei
também afastou-se da Comissão em março de
1997, quando o professor Gilmar de Souza Ribeiro (DEM/FEDF) foi
indicado para substituí-lo. Ainda com a colaboração
daqueles professores, a Comissão realizou, em agosto de
1996, um grande evento denominado "Avaliação da
Aprendizagem Significativa: 1.º Encontro de Estudos", com
a participação de cerca de 800 professores. No evento,
foram discutidos os pressupostos do PAS, bem como as estratégias
que seriam utilizadas para a consolidação deles
no âmbito das escolas.
Em
novembro de 1997, a Comissão apresentou à Reitoria
da UnB a minuta do edital da terceira etapa do Subprograma 1996.
Nele, com a inclusão da prova discursiva em língua
portuguesa, abordando conteúdos das diversas disciplinas,
ficou claro o estabelecimento do eixo estruturador das provas
do PAS: a contextualização e a interdisciplinaridade.
Este foi mais um marco na história do Programa, coincidindo
com o término da gestão do Prof. Todorov como Reitor.
Nessa ocasião, a Prof.ª Denise solicitou ao Reitor
a sua dispensa da Comissão.
Em
17/2/98, o Prof. Lauro Morhy, atual Reitor da UnB, resolveu compor
nova comissão para dar continuidade aos trabalhos de acompanhamento
do Programa. Por intermédio da Resolução
da Reitoria n.º 029/98, instituiu a Comissão Especial
de Acompanhamento do PAS, integrada pelos professores: Mauro Luiz
Rabelo (Presidente), Mauro Moura Severino, Vasco Pedro Moretto,
Júlio Gregório Filho, Amábile Pacios e Gilmar
de Souza Ribeiro. Esta Comissão mantêm os princípios
pautados no projeto inicial do PAS e continua avançando
em suas discussões.
Na
realidade, o PAS estará sempre sendo discutido e aperfeiçoado,
de modo a propiciar uma efetiva integração dos sistemas
de ensino. Admite-se que a relação seja bidirecional,
favorecendo a melhoria da qualidade do processo educacional na
escola básica e a seleção de futuros estudantes
universitários dotados de habilidades e capacidades específicas,
que se manifestem ao longo dos anos que antecedem o curso superior.
São
inquestionáveis os significados histórico e pedagógico
da construção dos conteúdos programáticos
do PAS. Histórico, pois, pela primeira vez na história
da UnB, foi delegada aos professores do ensino médio a
tarefa de elaborarem a seleção de conteúdos
a serem avaliados para o ingresso em seus cursos de graduação,
o que implica assumir integralmente a avaliação
do próprio trabalho educativo, com a especificação
de conteúdos considerados relevantes. Pedagógico,
por decorrência da responsabilidade protagonizada não
mais pela Universidade, mas pelos próprios professores,
redundando no fim do mito da "obrigatoriedade" de se trabalharem
conteúdos que são impostos pelo processo de seleção
para o ingresso no ensino superior.
Viabilizam-se,
dessa forma, condições para que o processo educacional
se dê em bases consistentes em termos de conceitos trabalhados,
dentro dos contextos psicopedagógico e social, priorizando-se
a preparação para o exercício da cidadania,
que inclui a possibilidade de ingresso em uma Instituição
de Ensino Superior.
3
PRESSUPOSTOS
O
Programa de Avaliação Seriada (PAS) tem por base
os pressupostos seguintes.
3.1
Os sistemas de acesso à Universidade têm uma influência
inegável no ensino médio, tanto no conteúdo
ministrado quanto no seu enfoque epistemológico. Os vestibulares,
tais como vêm sendo feitos na maior parte das instituições
de ensino superior, têm privilegiado o adestramento, o
ensino livresco, fragmentado, alienante e anacrônico,
e a memorização mecânica. Aquela influência,
entretanto, pode ser positiva se houver convergência entre
o sistema de acesso e os objetivos próprios do ensino
médio, como a formação da cidadania, a
preparação geral para o trabalho e o desenvolvimento
de competências e habilidades.
3.2
Alterações nos sistemas de acesso exigem também
mudanças no eixo de decisão quanto ao estabelecimento
da forma de avaliação e dos conteúdos programáticos,
tornando necessária a participação efetiva
dos professores do ensino médio, ao lado dos da Universidade.
3.3
Diante da quantidade e da disponibilidade cada vez maiores de
informações na sociedade atual, o estudante, mais
do que acumular informações, necessita capacitar-se
para selecioná-las criteriosamente e gerenciá-las
criticamente. O processo educacional deve contribuir para tornar
o educando um cidadão responsável, consciente
de seus deveres e direitos, autônomo em suas escolhas
e competente para a tomada de decisões e a resolução
de problemas. Isso exige também uma nova postura dos
educadores.
3.4
O processo educacional deve estar centrado nos conteúdos
relevantes para a formação do cidadão,
respeitadas as especificidades das diferentes disciplinas. Para
o acesso ao ensino superior, o estudante deve ser avaliado quanto
ao desenvolvimento de competências e habilidades, por
meio da aprendizagem significativa daqueles conteúdos.
3.5
É preciso que a mudança de postura de educadores
e educandos seja tratada como processo em construção.
Nele, destaca-se o papel da interação da universidade
com o ensino básico, que deve incluir, ainda, a comunidade
científica, os administradores escolares, os pais de
alunos e demais componentes da comunidade escolar.
4
OBJETIVOS DO PAS
Os
objetivos do Programa de Avaliação Seriada são
de caráter geral e específico.
4.1
Objetivo geral: implantar um processo seletivo para os cursos
de graduação da UnB alicerçado na integração
da educação básica com a superior, visando
à melhoria da qualidade do ensino em todos os níveis,
com base no princípio de que a vida escolar deve-se caracterizar
como um continuum;
4.2 Objetivos específicos:
4.2.1 selecionar os futuros estudantes universitários
de modo gradual e sistemático, não como o produto
de um único exame seletivo episódico, mas como
a culminância de um processo que se desenvolve ao longo
do ensino médio;
4.2.2definir os parâmetros de um processo seletivo que
busque a avaliação da aprendizagem significativa,
em que se privilegie a reflexão sobre a memorização,
a qualidade sobre a quantidade de informações,
o ensino sobre o adestramento, o processo sobre o produto;
4.2.3 adotar como eixo estruturador da avaliação
a contextualização e a interdisciplinaridade,
com ênfase no desenvolvimento de competências e
habilidades.
5
O PAPEL DOS CONTEÚDOS PROGRAMÁTICOS
Tendo
em vista os novos rumos que o ensino médio passa a ter
após a consolidação das Diretrizes Curriculares
Nacionais, com a mudança do "foco na aquisição
de conteúdos programáticos para o foco na formação
de competências e habilidades", o Programa de Avaliação
Seriada, que já havia se antecipado a essas tendências,
introduz aos pressupostos já existentes parâmetros
norteadores para a estruturação de seus conteúdos
programáticos. O enfoque atual pressupõe colaboração,
complementaridade e integração dos conteúdos
das diversas áreas e considera que adquirir conhecimentos
é construir e reconstruir continuamente significados por
meio do estabelecimento de relações de múltipla
natureza, individuais e sociais.
A
base para esses parâmetros é a LDB, que estabelece
como princípios axiológicos do currículo
escolar o fortalecimento dos laços de solidariedade e de
tolerância recíproca, a formação de
valores, o aprimoramento como pessoa humana, a formação
ética e o exercício da cidadania. Os conteúdos
devem servir de suporte para o desenvolvimento de competências
e habilidades, contextualizar o cidadão em sua realidade
social e colocar as bases do profissional do futuro.
Portanto,
na estruturação dos conteúdos programáticos
do PAS:
5.1
a ciência, as letras e as artes devem ser compreendidas
como processo histórico de transformação
da sociedade e da cultura; assim, os conteúdos devem
ser organizados de tal forma que estejam presentes os princípios
científicos e tecnológicos norteadores da produção
moderna;
5.2 os conteúdos devem favorecer o desenvolvimento das
competências básicas;
5.3
temas como filosofia, sociologia e tecnologia devem permear
os conteúdos das diversas disciplinas;
5.4
a interdisciplinaridade deve constituir um eixo estruturador
na definição dos conteúdos das diferentes
disciplinas e das habilidades que são comuns às
diferentes áreas do conhecimento;
5.5 a contextualização que é diferente
de textualização deve complementar e dinamizar
a interdisciplinaridade, dando significado ao desenvolvimento
dos conteúdos e criando as condições para
que os alunos experienciem eventos da vida real a partir de
múltiplas perspectivas;
5.6 na definição dos conteúdos devem ser
observadas as especificidades das seguintes áreas:
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias;
Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias;
Ciências Humanas e suas Tecnologias.
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